Jim
Morrison, sagitariano nascido a 8 de Dezembro de 1943, ilustre membro do “Clube
dos 27“, um termo macabro que designa os cantores icónicos que morreram com
essa idade (Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e, mais recentemente, Kurt
Cobain).
Figura maior da geração hippie e daquela que sobreviveu ao
festival de Woodstock, costumava encher o palco com exorcismos xamanísticos,
uma vez que clamava ser a personificação de espíritos de nativos americanos. A
sua poesia e as suas canções emolduravam o retrato de um homem de cabelos
compridos e calças de ganga que, mais do que ninguém, imprimiu no imaginário
colectivo, através das várias gerações, o visual do rockeiro.
Penso que será uma opinião
consensual o facto de ser difícil escolher, no personagem que Morrison encarou
perante os fãs, o objecto que mais sobressaía e que mais o distinguia. A aura
de Jim começava na placenta do som hipnótico do Fender Rhodes de Ray
Manzarek, passando pela performance vibrante, pelos mitos das estórias sobre o seu consumo de drogas e
álcool, terminando nos cabedais e gangas de uma poesia que fazia a ponte entre
os clássicos e as massas. Quando
cultuavam os Doors, na verdade, os
jovens cultuavam o imaginário de toda uma geração.
Se o rock dos Doors era hipnótico, a presença de Jim Morrison hipnotizava.
Talvez seja, então, essa a marca
sobre a qual nos devemos debruçar. O charme de Morrison. De que forma é que uma
característica de personalidade pode ser referida como um objecto? Procurando
aquele que alimenta esse carisma. Na minha opinião, o charme é a promessa do desconhecido, o que está para lá do óbvio. O
mistério do desconhecido. Se a personagem social de Jim era uma mistura
explosiva de chavões rockeiros
combinados entre si numa fórmula de sucesso, o que, de facto, distinguia o
autor de Light My Fire, Riders On The Storm, LA Woman (entre outros),
era o que o grande público desconhecia.
Jim Morrison nomeou os Doors em
homenagem ao livro Doors of Perception
de Aldous Huxley e era um leitor assíduo. Artur Rimbaud, Henry Miller e o
filósofo Friedrich Nietzsch estão entre os seus autores preferidos. As letras
dos seus poemas e das suas composições beberam da fonte dos grandes nomes da
literatura mundial. E é esse o ingrediente secreto do carisma que influencia
várias gerações de jovens ouvintes.
Num exercício um pouco arriscado,
mas contundente, atrevo-me a dizer que o objecto que melhor caracteriza o
náufrago inveterado que Jim Morrison personifica, seja, talvez, o livro
e a relação que ele estabeleceu com as palavras que lhe sustentaram a ascenção
e a queda, bem como as que o contaram e o elevaram a mito.
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